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História e implicações da teoria da reencarnação dos espíritos
13/06/2016 11:32 em ofielcatolico.com.br
ESTA ABORDAGEM contempla os aspectos morais, éticos, racionais e lógicos, inclusive matemáticos, envolvidos nos sistemas filosófico-religiosos que adotam como fundamento a teoria da reencarnação. Este será o primeiro de uma série de capítulos de um estudo que pretende explicar em detalhes as diversas razões que tornam a reencarnação uma impossibilidade moral, lógica e mesmo matemática, logo também metafísica. Antes de entrar nas particularidades do assunto, consideramos conveniente publicar a breve história da ideia da reencarnação no mundo.

A reencarnação na Antiguidade

A primeira referência histórica à ideia de reencarnação que se conhece tem cerca de 2.600 anos de existência: aparece nasUpanishads, as escrituras sagradas do Hinduísmo, religião que permanece até os nossos dias como a maior da Índia, professada por aproximadamente 80% da sua imensa população, embora nas últimas décadas venha perdendo terreno para o Islamismo e, em menor grau, para o Cristianismo.

A crença na reencarnação surgiu no norte da Índia, entre 1.000 e 600 a.C., na mesma época em que Davi e seus descendentes governavam Israel, até a queda de Jerusalém. Pelo fato de ser o Hinduísmo a grande fonte e origem de todas as religiões da chamada Tradição Oriental (que por sua vez o são de diversas das seitas surgidas no Ocidente), a maior parte dessas doutrinas se encarregou de repassar, por todo o mundo, a teoria de que a alma habita diversos e diferentes corpos, através das gerações, no transcorrer da História.
 

 

Já no século VI antes de Cristo, e curiosamente quase ao mesmo tempo, duas novas religiões surgiram na Índia, ambas egressas ou dissidentes do Hinduísmo: uma é oJainismo, fundado pelo príncipe indiano NataputaVardamana (cerca de 599 a 537 a.C.), conhecido como "mahavira" (grande herói). A outra é o Budismo, fundado por Siddharta Gautama, conhecido como o Buda Sakiamuni (563-483 a.C.) ou "buda histórico". Estes dois fundadores foram contemporâneos, portanto, dos profetas bíblicos Ageu, Zacarias e Malaquias.
De fato, parece que a maior preocupação de ambos –, tanto do Mahavira quando do Buda –, era encontrar um jeito de “atravessar o rio” que separa a vida temporal, fútil e ilusória que vivemos neste mundo físico, isto é, a vida n"os domínios de 'Maya'" (a ilusão dos sentidos que contémSamsara, o ciclo interminável de renascimentos) aoMoksha (a libertação final deste ciclo e a entrada numa esfera de existência mais elevada, puramente espiritual). Em todo caso é explícito, na tradição e nos escritos dessas duas doutrinas, que a crença na reencarnação entrou quase que exclusivamente por uma questão cultural, isto é, por hábito e cultura em que surgiram, muito mais do que como afirmação doutrinária. O Buda preferia não falar sobre o assunto, e em diversas ocasiões escolheu o silêncio em lugar de partir para explicações a respeito do que acontece depois da morte física. Era esta a sua postura quanto a tudo que não pudesse ser “experimentado”, através do estudo, da vivência pessoal e da meditação profunda. Teria dito ele:
Não creiais em coisa alguma pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito de algum sábio antigo. Não creiais em coisa alguma com base na autoridade de mestres e sacerdotes. Aquilo, porém, que se enquadrar na vossa razão, e depois de minucioso estudo for confirmado pela vossa experiência, conduzindo ao vosso próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas; a isso aceitai como verdade. Por isso, pautai vossa conduta."
Frase atribuída a Sidharta Gautama (Buda Sakiamuni)
 
 
Além disso, ao contrário do que se pensa (e se ensina por aí), a crença na reencarnação não é unanimidade entre os budistas e, mesmo entre as linhas do budismo que a aceitam, a noção que têm de "reencarnação" é algo completamente diferente daquilo que afirma Kardec, por exemplo. Dúvidas podem ser tiradas em páginas budistas como estaesta e esta, por exemplo.
 
Em primeiro lugar, a reencarnação não é um conceito budista. É um conceito ocidental moderno inventado pelos socialistas utópicos do século XIX que foi adotado pelos espíritas e que as pessoas projetam equivocadamente no Budismo. Em segundo lugar, não existe no Budismo o conceito de espírito. Sendo o homem um ser impermanente e interdependente, não pode haver algo como um espírito autônomo e perene. O homem é um ser composto de agregados físicos e psíquicos impermanentes e interdependentes, sujeitos a contínuas transformações, como o é o próprio ser humano.
Textos budistas falam em vidas sucessivas condicionadas pelos atos das vidas anteriores. Mas nem todos os budistas acreditam nisso ao pé da letra, e os que o fazem falam em transmigração ou renascimento, nunca em reencarnação. Para o Budismo Shin, trata-se de um discurso simbólico e mitológico a descrever os desvarios e devaneios da mente ignorante e egoísta ao longo desta mesma vida. O Buda considerava a especulação sobre a vida depois da morte como inútil e irrelevante para o objetivo a que se propunha – libertar o homem do sofrimento –, já que se trata de um assunto além das capacidades de entendimento do homem.
Rev. Ricardo Mário Gonçalves
(Instituto Budista de Estudos Missionários, Templo Higashi Honganji)

 

 

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